quarta-feira, 20 de junho de 2007

Concha

Cortem minhas asas sem anestesia
Eu quero ver sangrar hipocrisia
em pele de puro passarinho recém-nacido
Eu vou bicar o chão
e levantar minha asinhas pro céu
Agradecendo ainda respirar
E a hipocrisia acredita saber sorrir
Faz graça e perde, bem veloz
Vai se agachar e lamber os dedos
com unhas mal cortadas, tanto faz
Remédios que te encaixam
Obrigando a falta da poesia bruta minha
Flor de vaso que já não alcanças mais
Sem cheiro, gosto e cor
Sem vida

Quebrei o ovo
mas me impuseram concha
Caminho de braços dados à poesia
Nunca má acompanhada
Vem doçura, tristeza e loucura

Com açúcar, com afeto.

Minha foto
Foz do Iguaçu, PR, Brazil
O que há em mim é sobretudo cansaço - Não disto nem daquilo, Nem sequer de tudo ou de nada: Cansaço assim mesmo, ele mesmo, Cansaço. A sutileza das sensações inúteis, As paixões violentas por coisa nenhuma, Os amores intensos por o suposto alguém, Essas coisas todas - Essas e o que falta nelas eternamente -; Tudo isso faz um cansaço, Este cansaço, Cansaço. Há sem dúvida quem ame o infinito, Há sem dúvida quem deseje o impossível, Há sem dúvida quem não queira nada - Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: Porque eu amo infinitamente o finito, Porque eu desejo impossivelmente o possível, Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou até se não puder ser... E o resultado? Para eles a vida vivida ou sonhada, Para eles o sonho sonhado ou vivido, Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto... Para mim só um grande, um profundo, E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, Um supremíssimo cansaço, Íssimo, íssimo, íssimo, Cansaço... Fernando Pessoa

Fiz seu doce predileto.