segunda-feira, 26 de maio de 2008

a conversa que eu esqueci

vermelho em preto e branco
o papel, caneta e a mão
raios em olhos fechados
cóssegas nas orelhas
radiohead sem explicação
poker
três dentes, num tapa
-porque fez isso?
-ficou louca?
melhor calar
black alien
um lábio grudado em outro
sangue
um dedo pra proteger
sangue
- que merda é essa?
tira isso, que inferno!
- nem a pau.
sem força pra demonstração
insatisfação
- olha minha boca.
- uhm
um minuto... dois...
- nossa!
PRETO
luz forte, caminho
- ai, vou morrer.
- cala a boca.
do jeito que é grosso
não vou poder me despedir
melhor calar e esperar
- vamos.
- não, por favor.
lágrima
- preciso comer.
pão e cheddar
mais um, e outro
- vamos
- ta
chegando lá
desconhecidos demais
silêncio meu, barulho demais
escândalo
escutei uma conversa
pônei? unicornio?
- ta se sentindo deslocado?
- muito. ainda bem que tem cerveja.
preciso lembrar disso depois, sei que não
merda, nunca vou escrever
porque não tenho papel?
bom, vou falar afinal
uma festa, desconhecidas
- olha minha boca, ta assim faz um tempão.
- sério? então médico.
- ah, não tanto assim.
- quanto?
- uma hora.
- ah, já melhora.
rostos tortos
um desenho escondido
meu silêncio
seu escândalo!
aaaaaaaah, inferno!
taxi, por favor
cigarro, um minuto... dois...
cama e pesadelo só

domingo, 25 de maio de 2008

que merda.

que merda é essa de amor?
o que todo mundo diz pra sempre
e esperam que de uma hora pra outra
vá sumir, acabar
fingir que nada aconteceu
sustentar as mágoas, pra não voltar atrás
como se acabar com ele já não fosse contradição
que merda é essa de amor?
o que ninguém entende que o amor tem várias formas
que um dia você se entrega e no outro não vai andar de mãos dadas
mas pode continuar abraçando todos os passos dados
que esquecer pode não ser terminar
que terminar pode não ser esquecer
que esquecer é a palavra errada
que quando digo que amo, assim por conta própria
eu sou de quem souber aceitar, como quiser
como eu quiser, como alguém quiser
quando aceitar, quando aceitar

Na cinza das horas-

Toda hora um modo novo de viver e voltar a me estragar
Todo dia um cansaço de matar e a solidão pra acabar
Hoje há apenas vontade de não voltar atrás, é o fim
Ontem é uma mentira que inventaram por mim
Amanhã vamos fingir que qualquer coisa nesse mundo
Será melhor por um segundo
Ano passado é a estrela do topo da minha árvore de natal
Agora vou me esconder, ouvir bossa, coisa e tal

Wood

As olheiras que quer me dar de presente
Nunca sonhei com o nosso nunca como ele é
Vou beijar sua insônia e acordar cedo
Colocar seu vício na mesa pra você aguentar
Tocar Soko ou qualquer coisa assim pra variar

Perdeu

seja agora apenas minha inspiração pra escrever tudo aquilo que mais odeia

Biscate

achei que esse amor fosse bem maior
toda nossa história inventada
é bom saber que você é bem menor
lembrar que todo mundo erra
mesmo com uma mentira bem contada
"vives na gandaia, esperas que eu te respeite"
toda vontade foi abandonada
vamos brincar com algum enfeite
tiramos da sua invenção
foi voar pro outro lado desse país
e fazer tudo que eu nunca quis nem fiz
simples é imitar e estrangular meu coração
fingir sua perfeição nunca alcançada
a despedida: jogar as lembranças fora
e voltar a correr em qualquer calçada
sem te ver, sem te ter
vai logo se esconder, começa a correr
um outro lado e um outro passado
pra ti, pra mim está acabado

terça-feira, 6 de maio de 2008

txurututuru

é um pecado
a gente assim tão separado

domingo, 4 de maio de 2008

Entrego

eu preciso arranjar algum orgulho
pra parar de sangrar por onde você costuma pisar
sou toda a verdade do que sinto
o passado e o futuro não estão por perto
te amo hoje, amanhã pode ser que sim
retorno ao ponto de partida e abraço meus velhos erros
eu entrego os passos e procuro fotografias rasgadas
meu pranto descansa em versos tortos
mas acalmar o sangue que ferve só você faz
mesmo que morto e que na luz eu não te veja mais

Com açúcar, com afeto.

Minha foto
Foz do Iguaçu, PR, Brazil
O que há em mim é sobretudo cansaço - Não disto nem daquilo, Nem sequer de tudo ou de nada: Cansaço assim mesmo, ele mesmo, Cansaço. A sutileza das sensações inúteis, As paixões violentas por coisa nenhuma, Os amores intensos por o suposto alguém, Essas coisas todas - Essas e o que falta nelas eternamente -; Tudo isso faz um cansaço, Este cansaço, Cansaço. Há sem dúvida quem ame o infinito, Há sem dúvida quem deseje o impossível, Há sem dúvida quem não queira nada - Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: Porque eu amo infinitamente o finito, Porque eu desejo impossivelmente o possível, Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou até se não puder ser... E o resultado? Para eles a vida vivida ou sonhada, Para eles o sonho sonhado ou vivido, Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto... Para mim só um grande, um profundo, E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, Um supremíssimo cansaço, Íssimo, íssimo, íssimo, Cansaço... Fernando Pessoa

Fiz seu doce predileto.