quinta-feira, 3 de julho de 2008

wrong way-

uma, duas, três cervejas e um café com leite
muito açucar
mas a conversa não é doce
o barulho ao redor das frases mal terminadas
faz com que silencie algumas vozes agoniadas
o incrível é o sorriso que não se cala jamais
um, dois, três chicletes e um cigarro
olhos machucados pela vitória do time adversário
é melhor correr do que caminhar
assim você não chega a prestar atenção

- quer fazer o favor de parar com isso?
- com o que, meu?
- não aguento mais.
- qual a graça de morrer mais cedo?
- pra quê viver tanto?
meu psicologo diz que quando fuma se sente mais vivo.
- e você se sente também?
- ah, sei lá. eu gosto e já não consigo parar.
- dá pra vocês calarem a boca que eu não consigo escutar?
- por favor!
- vamos caminhar?
- você sabe que eu não gosto disso.
- você também sabe que eu não gosto de futebol.
- eu não pedi pra você vir aqui.
pausa longa.
- eu não te amo mais.
- o que me importa? eu também não.
- viu, era melhor vocês terem se calado antes que começasse.
- agora já foi e eu também vou.
- vou com você, posso?
- tanto faz.
Gabriella sai sem dizer mais nenhuma palavra.
Cecilia se despede de Ana e Marcos e vai correndo atrás de Gabi.

um, dois cigarros e milhões de passos pra chegar
- porque você esconde que fuma?
- porque eu não acho bonito.
- você gosta dos diálogos do josé saramago?
- nunca li.
- que pena. são complicados, mas eu adoro.
- você falou sério quando disse que não amava mais a sua razão?
- é. já faz tempo, mas eu não sabia como falar.
- dai você simplesmente falou assim?
- sim. não ouviu?
- e você ta bem?
- lógico. estou bem melhor. você quer dançar?
- pode ser. aonde?
- lá em casa.
- não teria como voltar pra casa depois.
- pode dormir lá se preferir.
- ótimo, vamos dançar na frente do espelho pra variar.
- você não gosta mais? ai, eu preciso de mais um café.
- você tem saudade de nós?
- as vezes mas tento não pensar nisso.
que pergunta é essa?
- não sei. porque precisa ser tão grossa?
- me dá um abraço.
- sempre que precisar.
- acho melhor eu ir pra casa.
- porque? eu estou bem, mas se ficar sozinha não vou continuar.
- vamos pra algum outro lugar então. eu pago pra você entrar.
- você sabe que eu adoro ter você assim.
- não. eu acho que você adora se fingir de louca, mas eu adoro você mesmo assim.

Com açúcar, com afeto.

Minha foto
Foz do Iguaçu, PR, Brazil
O que há em mim é sobretudo cansaço - Não disto nem daquilo, Nem sequer de tudo ou de nada: Cansaço assim mesmo, ele mesmo, Cansaço. A sutileza das sensações inúteis, As paixões violentas por coisa nenhuma, Os amores intensos por o suposto alguém, Essas coisas todas - Essas e o que falta nelas eternamente -; Tudo isso faz um cansaço, Este cansaço, Cansaço. Há sem dúvida quem ame o infinito, Há sem dúvida quem deseje o impossível, Há sem dúvida quem não queira nada - Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: Porque eu amo infinitamente o finito, Porque eu desejo impossivelmente o possível, Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou até se não puder ser... E o resultado? Para eles a vida vivida ou sonhada, Para eles o sonho sonhado ou vivido, Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto... Para mim só um grande, um profundo, E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, Um supremíssimo cansaço, Íssimo, íssimo, íssimo, Cansaço... Fernando Pessoa

Fiz seu doce predileto.