quinta-feira, 5 de julho de 2007

Segunda

Um começo sem sentido nem lembrança
Eu quero olhar pro sol indo embora pra tão longe
Mas não tão longe quanto eu sintia você estar
Olhos desatentos perdidos em cabelos negros
Um coração que recebe asas de anjo
E tenta voar pra fora do peito
fazendo cócegas sem causar sorriso
Ele nunca vai fugir daí, não vai me alcançar
Pode começar a correr agora mesmo
Escorrega e sangra dentro do peito arranhado
Sangra com sensação de angústia apertando
Últimos abraços que pedem pra escapar
Escapar da tortura de cor clara assim
Pura anestesia que não cura nada
Volta mais forte, o vento já não sopra
O vento empurra pra cá com força
Me puxando pensamentos ladrões de tempo
Sempre lembrando que eu
Já não sei ser mais nada além de tua
Teu vício perfeito, levando e trazendo sem parar
Eu não quero um ponto, nem três
Ponto, ponto pronto já foi o último de novo
Desce quase rolando, querendo virar, virar, virar

Com açúcar, com afeto.

Minha foto
Foz do Iguaçu, PR, Brazil
O que há em mim é sobretudo cansaço - Não disto nem daquilo, Nem sequer de tudo ou de nada: Cansaço assim mesmo, ele mesmo, Cansaço. A sutileza das sensações inúteis, As paixões violentas por coisa nenhuma, Os amores intensos por o suposto alguém, Essas coisas todas - Essas e o que falta nelas eternamente -; Tudo isso faz um cansaço, Este cansaço, Cansaço. Há sem dúvida quem ame o infinito, Há sem dúvida quem deseje o impossível, Há sem dúvida quem não queira nada - Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: Porque eu amo infinitamente o finito, Porque eu desejo impossivelmente o possível, Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou até se não puder ser... E o resultado? Para eles a vida vivida ou sonhada, Para eles o sonho sonhado ou vivido, Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto... Para mim só um grande, um profundo, E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, Um supremíssimo cansaço, Íssimo, íssimo, íssimo, Cansaço... Fernando Pessoa

Fiz seu doce predileto.