terça-feira, 24 de junho de 2008

Nenhum

estalos na escuridão de meus pensamentos
berrando pra que eu fuja daquele passado
guardando o último pingo de inocência e esperança
que restam prum futuro qualquer

um método de escape perdido pelo medo
a solidão que as vezes é tão boa companhia
eu acho que nem sinto mais
quando eu piso pelas roupas sujas espalhadas
os legumes podres dentro da geladeira
sem uma gota pra beber

a gengiva machucada
e esse branco todo irritante
hoje eu vou escrever sobre qualquer coisa
pra arrancar

tosse, febre, despertador
sem dinheiro pra comprar
sem força pra procurar
eu quero que esse som aumente mais o volume
os carros que embaixo passam, correm, batem
como diz a adriana: pra que?
achei que fosse morrer

não sei como vou ficar
sem ter você aqui de novo
as vezes eu prefiro nem pensar
mas não tem como esconder
que é óbvio o quanto sou incompleta
e as noites serão claras demais

não diga que preferia que não
que eu seria bem melhor sem você por perto
não sei quem eu seria
não sei quem sou
todo mundo se machuca
mas eu não seria capaz

um passo pra frente pra reviver
seria mais pesado do que aquele dia que eu chorei
eu já não sofro mais
sou a preguiça em pessoa
e não há o que me motive a sair daqui
sem a certeza de que dará

um branco no preto, um vermelho com amarelo
e o azul? e o verde? eu gosto do roxo nos teus olhos
nenhum sonho será concluido por enquanto
pra nenhum de nós

Com açúcar, com afeto.

Minha foto
Foz do Iguaçu, PR, Brazil
O que há em mim é sobretudo cansaço - Não disto nem daquilo, Nem sequer de tudo ou de nada: Cansaço assim mesmo, ele mesmo, Cansaço. A sutileza das sensações inúteis, As paixões violentas por coisa nenhuma, Os amores intensos por o suposto alguém, Essas coisas todas - Essas e o que falta nelas eternamente -; Tudo isso faz um cansaço, Este cansaço, Cansaço. Há sem dúvida quem ame o infinito, Há sem dúvida quem deseje o impossível, Há sem dúvida quem não queira nada - Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: Porque eu amo infinitamente o finito, Porque eu desejo impossivelmente o possível, Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou até se não puder ser... E o resultado? Para eles a vida vivida ou sonhada, Para eles o sonho sonhado ou vivido, Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto... Para mim só um grande, um profundo, E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, Um supremíssimo cansaço, Íssimo, íssimo, íssimo, Cansaço... Fernando Pessoa

Fiz seu doce predileto.